Para mitigar as emissões de CO2 e outros gases ligados ao efeito estufa, a indústria siderúrgica vem buscando alternativas sustentáveis. O aço verde, que tem o potencial de ser neutro em carbono, é uma das opções mais promissoras.
Com uma produção anual de dois milhões de toneladas, o aço é um dos pilares na construção civil, na fabricação de veículos, eletrodomésticos e em diversas infraestruturas.
Contudo, esse protagonismo vem acompanhado de um custo ambiental expressivo.
Os altos-fornos, essenciais para a produção convencional, operam com base em combustíveis fósseis, contribuindo significativamente para as emissões de Gases do Efeito Estufa (GHG).
A cadeia do aço é responsável por até 11% do CO2 e 7% de todos os GHG com origem em atividades humanas.
Para enfrentar esse desafio ambiental, é necessário buscar alternativas mais sustentáveis.
Reduzir o impacto do setor de forma consistente exige inovações na produção primária; objetivo que deu origem ao aço verde.
O conceito não altera a cor ou outros aspectos básicos do aço, mas diz respeito ao compromisso da indústria em adotar práticas mais ecológicas na sua fabricação.
Saiba quais processos estão por trás do aço verde, qual o papel do Brasil no cenário global, e as vantagens que esse material oferece para as empresas e o meio ambiente. Siga a leitura.
O que é o aço verde?
Aço verde é um material inovador que pode ser produzido através do carvão vegetal oriundo de áreas reflorestadas, que sequestram carbono da atmosfera. Outra possibilidade envolve a fabricação a partir de processos elétricos, utilizando o hidrogênio verde como fonte de energia.
Também podemos dizer que o aço verde é um termo amplo, pois define abordagens mais sustentáveis na produção desse material.
Para atingir temperaturas que chegam a 1.500 Cº, o processo convencional utiliza altos-fornos movidos a combustíveis fósseis, como petróleo e carvão mineral.
Nos dois modelos mencionados, o material final tem as mesmas propriedades do aço tradicional, e serve às mesmas aplicações. Esse é um ponto fundamental, já que indústrias como a construção civil e automobilística dependem da alta resistência oferecida por ele.
Um exemplo da confiança atribuída ao aço verde é o movimento da Scania, uma das líderes globais na montagem de veículos pesados. A empresa fechou sua primeira compra do recurso em 2023, e tem planos de aplicá-lo em todos os caminhões produzidos a partir de 2030.
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Como é feito o aço verde?
Diversas abordagens inovadoras têm sido exploradas para alcançar o aço verde. Entre as possibilidades, dois métodos já estão sendo utilizados e um terceiro, ainda em desenvolvimento, tem o potencial de acelerar os avanços no setor.
Hidrogênio Verde
O hidrogênio verde é uma alternativa para substituir os combustíveis fósseis em altos-fornos.
Esse hidrogênio é obtido a partir de processos com base em energia renovável, como a solar ou eólica, e já vem sendo empregado em outras indústrias.
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Carvão Vegetal
Ao contrário do carvão mineral, o carvão vegetal é derivado de fontes renováveis, como madeira de reflorestamento.
Este recurso libera apenas o carbono que as árvores capturaram ao longo do seu crescimento, sendo considerado neutro em CO2. Sua utilização nos altos-fornos diminui a pegada de carbono associada à produção de aço, enquanto contribui para a gestão responsável de recursos.
Eletrólise
A eletrólise surge como uma proposta inovadora, capaz de transformar o minério em aço puro de forma ainda mais limpa.
Nesse processo, a eletricidade, que pode ser proveniente de fontes renováveis, é empregada para conduzir uma reação eletroquímica, reduzindo o minério de ferro e levando à produção de aço.
Embora ainda em fase de desenvolvimento, a eletrólise destaca-se pela sua promessa de reduzir significativamente as emissões de carbono associadas à fabricação de aço, marcando um avanço notável em direção a métodos mais sustentáveis.
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Cenário brasileiro na produção e uso do aço verde
No contexto global, o Brasil é o nono maior produtor de aço, detendo uma posição significativa no mercado siderúrgico.
Entretanto, à medida que a demanda por aço verde ganha impulso, o país tem a oportunidade de expandir sua participação, trazendo benefícios ambientais e econômicos.
A utilização predominante de carvão vegetal proveniente de florestas de eucalipto como matéria-prima confere ao Brasil uma vantagem singular no cenário do aço verde.
O país tem condições favoráveis para expandir a oferta desse recurso, levando ao reflorestamento de até um milhão de hectares e promovendo o sequestro de 2 milhões de toneladas de CO2.
No entanto, a otimização da eficiência na produção do carvão vegetal ainda é um desafio para que a indústria o adote em larga escala.
Outra alternativa promissora é o hidrogênio verde, aproveitando a expressiva capacidade do Brasil na produção de energia eólica e solar.
A disponibilidade ampla desses recursos faz com que o país seja capaz de produzir hidrogênio a custos competitivos, contribuindo para a redução das emissões de carbono na indústria siderúrgica, mas também acelerando a transição energética nacional.
Um dos maiores avanços até aqui é a construção da Aço Verde Brasil (AVB), primeira usina siderúrgica neutra em carbono do mundo. O projeto vem se desenvolvendo desde os anos 1990 em Açailândia, no Maranhão, região que já produz 600 mil toneladas de aço verde por ano e tem capacidade para chegar a 1 milhão de toneladas.
Além de utilizar combustíveis sustentáveis e renováveis, a Aço Verde Brasil também reaproveita os gases gerados em suas operações. Uma planta de energia instalada na própria usina oferece 50% da eletricidade necessária para o seu funcionamento, queimando os gases em ambiente fechado e reduzindo ainda mais a sua pegada de carbono.
Principais vantagens
O aço verde é uma alternativa inovadora que redefine os padrões do setor, oferecendo uma série de benefícios ambientais e econômicos.
Redução das emissões de carbono
A produção convencional de aço é conhecida por ser uma das grandes emissoras de carbono.
O aço verde, por sua vez, adota métodos mais sustentáveis, como o uso de carvão vegetal em substituição aos combustíveis fósseis.
Essa mudança fundamental reduz as emissões de gases de efeito estufa, contribuindo diretamente para os esforços globais de combate às mudanças climáticas.
Incentivo ao reflorestamento
O aço verde pode utilizar carvão vegetal proveniente de florestas replantadas, incentivando práticas de reflorestamento.
Além de fornecer uma fonte renovável de matéria-prima, essa abordagem promove a preservação da biodiversidade e o sequestro de carbono, alinhando-se às metas de sustentabilidade ambiental.
Eficiência energética
Os processos empregados na produção de aço verde são caracterizados por sua eficiência energética.
Tecnologias avançadas e práticas otimizadas garantem que a energia seja utilizada de forma mais racional, reduzindo o custo de produção e garantindo a competitividade desse recurso.
Menor dependência de combustíveis fósseis
A substituição de combustíveis fósseis por fontes renováveis no processo de produção de aço verde diminui a dependência de recursos finitos.
Essa mudança não apenas favorece a conservação de elementos estratégicos, como reforça a contribuição da indústria siderúrgica com os princípios de desenvolvimento sustentável.
Qualidade do produto
O uso de carvão vegetal na produção de aço verde pode resultar em um produto final de qualidade superior.
O carvão vegetal costuma ter uma presença menor de resíduos em comparação aos combustíveis fósseis tradicionais.
Além de contribuir para a sustentabilidade do processo, ele pode conferir propriedades desejáveis ao aço, como maior pureza e resistência mecânica.
Incentivo à pesquisa e desenvolvimento
A transição para o aço verde impulsiona a necessidade de pesquisa e desenvolvimento contínuos.
Novas tecnologias, métodos mais eficientes e práticas inovadoras são necessárias para aprimorar a produção e atender às demandas de sustentabilidade.
Esse ambiente propício à inovação não apenas beneficia a indústria do aço, mas também contribui para o avanço tecnológico global.
Fomento à transição energética
O aço verde está intrinsecamente ligado à transição para fontes de energia mais limpas.
Ao adotar recursos mais sustentáveis, a indústria do aço contribui para o desenvolvimento de toda uma infraestrutura, fortalecendo áreas como a energia solar e eólica, além do carvão vegetal.
Essa é uma vantagem estratégica para atender às metas globais de redução das emissões de carbono.
Atração de investidores conscientes
Empresas que adotam práticas sustentáveis, como a produção de aço verde, tornam-se mais atrativas para investidores conscientes.
O compromisso com a responsabilidade ambiental e social pode gerar maior interesse de investidores que valorizam iniciativas alinhadas aos princípios da pauta ESG, ampliando as oportunidades de financiamento e parcerias estratégicas.
Competitividade no mercado
Os consumidores também estão cada vez mais atentos às práticas sustentáveis das empresas.
A produção de aço verde ressoa positivamente entre eles, oferecendo uma vantagem competitiva às empresas que adotam essa abordagem.
Conclusão
Diante dos desafios impostos pelas emissões de carbono e pela crescente conscientização de investidores, parceiros e consumidores, o aço verde emerge como uma solução promissora.
Sua capacidade de reduzir emissões, incentivar o reflorestamento, promover a eficiência energética e atrair recursos delineia um caminho claro para um futuro sustentável.
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