Ambidestria Organizacional: como balancear as inovações do presente e futuro?

Luís Felipe Carvalho, especialista em inovação, explica como balancear as inovações do presente e futuro, garantindo a ambidestria organizacional.
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Existem muitas empresas que se preocupam quase que unicamente com as estratégias que geram resultado para o momento atual da organização, esquecendo-se de estruturar e planejar muito bem o futuro.

Esse artigo tem como o objetivo ser como uma bússola para nortear a construção do seu portfólio de inovação, planejando as suas iniciativas de maneira que o seu negócio não desperdice recursos, mas transformem apostas em produtos disruptivos.

Ambidestria Organizacional

Para as empresas inovadoras ou que querem começar a investir na estratégia, existe a dúvida de como equilibrar o portfólio de inovação para que nenhuma ponta fique solta, de maneira que tenhamos os resultados esperados a curto e longo prazo.

O equilíbrio entre essas estratégias, principalmente no que se refere às inovações incrementais e radicais, ao longo do tempo, é chamado de ambidestria organizacional. Clique aqui para entender um pouco mais sobre a estratégia antes de continuar.

Leia também: Ambidestria Organizacional: a fórmula para eficiência na gestão da inovação.

Tipos de inovação na ambidestria organizacional

Inovação de sustentação (exploitation)

Exploitation (ou inovações de sustentação), incrementam o Core Business da sua empresa e complementam a estratégia de ambidestria organizacional. Aqui nós concentramos a inovação incremental, ou seja, envolvemos todos os colaboradores da organização com a finalidade de aproveitar a aproximação dessas pessoas com o processo ou o produto da sua organização. As ideias e sugestões de melhoria dos colaboradores geram resultados incríveis, fortalecendo o seu negócio atual e mantendo-o em constante evolução.

Para a inovação incremental nós recomendamos o Programa de Ideias e se você ainda não conhece a estratégia, nós temos um vídeo detalhado pelo nosso especialista em inovação, Luís Felipe Carvalho.

Assista também: O que é um Programa de Ideias?

Para exemplificar a inovação de sustentação, temos o exemplo da Netflix, que quando produz um conteúdo original está alimentando seu negócio atual, ampliando a sua autoridade e se tornando cada vez mais independente de conteúdos de terceiros (multiplicando suas margens de lucro).

Inovação de crescimento (exploration)

Já as inovações de crescimento são iniciativas que buscam prever as variáveis que, hoje, a organização não pode controlar, buscando novos caminhos onde o produto atual pode trilhar, se adaptar ou conquistar um mercado completamente diferente. O termo em inglês para essas iniciativas de crescimento é exploration e, como o próprio termo já deixa claro, nós visamos explorar novas alternativas.

Utilizando os mesmos exemplos, não podemos nos esquecer que o passado a Netflix estava em um mercado completamente diferente: o de ecommerce a varejo de DVD’s de produções terceirizadas. No período de dez anos, a empresa mudou de varejo de DVD’s para produtora de conteúdo e, principalmente, serviço de streamming (essa transição é conhecida como inovação de crescimento), ou seja, provavelmente há 10 anos atrás o streamming era apenas uma opção no horizonte e, hoje, é o carro chefe da empresa.

Leia também: Horizontes de Inovação, o seu negócio precisa sobreviver!

A matriz BCG e os tipos de inovação na ambidestria organizacional

Para distinguir melhor inovação de sustentação ( exploitation ) de inovação de crescimento ( exploration ), vamos pensar em inovação de produto. Agora, vamos pensar em uma empresa com diferentes tipos de produto: como ela vai administrar esse portfólio de inovações?

Criado por Bruce Henderson nos anos 70, a matriz BCG foi desenvolvida para a consultoria BCG (Bonston Consulting Group) e é uma metodologia de análise gráfica do portfólio de produtos de uma empresa.

Essa facilitação gráfica permite ter uma visão macro da estratégia de alocação de projetos de inovação e, principalmente, do caminho desses projetos ao longo do percurso de desenvolvimento de produtos de em uma organização. A matriz está dividida em quatro quadrantes, direcionada por dois principais eixos: o market share da organização e o crescimento do mercado, respectivamente.

Confira, abaixo, os quatro cenários da matriz BCG:

Apostas: alto crescimento e baixo market share

Quando nosso produto está inserido em um mercado de alto crescimento e baixo market share, nós temos uma Aposta. Podemos visualizar o cenário com o exemplo do Google: imagine o investimento da gigante com o desenvolvimento de tecnologia para carros autônomos – esse é um mercado em alto crescimento, entretanto, a Google ainda não é um player relevante, pois é um investimento inovador de longo prazo.

Mas o Google, como qualquer outra empresa que possui um produto ou investimento no primeiro quadrante, quer evoluí-lo até que se transforme em uma Estrela.

Estrela: alto crescimento e alto market share

Já as Estrelas são produtos com mercado em alto crescimento e alto market share. Imagine em alguns anos, o Waymo da Google fazendo parte do dia a dia das pessoas, ou seja, um produto que, antes, era uma aposta, agora, tornou o Google um player completamente relevante, em um mercado em pleno crescimento. Você já deve ter percebido que a própria Google é uma organização que investe plenamente na ambidestria organizacional.

Vaca leiteira: baixo crescimento e alto market share

Quando o meu produto atinge o ápice do crescimento do mercado, o mesmo começa a perder velocidade e tende a se estabilizar. Se o meu produto possui market share e agora está em um mercado com baixo crescimento, nós finalmente transformamos uma Aposta em uma Vaca Leiteira, ou seja, o que no passado era apenas uma aposta, agora é parte complementar do Core Business do meu negócio. Esse é o caminho mais lógico de um projeto de um portfólio de inovação e nosso principal objetivo.

Abacaxi: baixo crescimento e baixo market share

Agora, e quando o crescimento do mercado está baixo e eu não tenho market share? Assim como uma Aposta do passado pode (e deve) virar a Vaca Leiteira de hoje, o jogo pode virar, tornando os produtos que representam nosso Core Business, agora, verdadeiros Abacaxis – com baixo crescimento de mercado e baixo market share.

O desejo de toda organização é transformar Apostas em Estrelas e o mais importante da matriz BCG é justamente ter uma rápida percepção de quando uma aposta pode se tornar inviável, nos obrigando a eliminar a inovação a tempo (antes de consumir recursos que podem alimentar as apostas que realmente possuem potencial para se tornar Estrelas.

Nós podemos utilizar como exemplo o Google Glass, que foi um dispositivo projetado pela Google para unir a funcionalidade de um óculos com a da tela de um smartphone. O aposta foi amplamente divulgada, mas os resultados foram insuficientes e a empresa logo percebeu que se tratava de um Abacaxi, descartando-o para não prejudicar outros projetos.

Exploitation e exploration na matriz BCG

Provavelmente você pode estar se perguntando onde estão localizadas as inovações de sustentação e as inovações de crescimento na matriz BCG e, para tornar essa visualização mais didática, criamos outra imagem:

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Logicamente, as Apostas representam os investimentos que fazemos agora, para colher os resultados no futuro. Já as inovações de sustentação podem estar localizadas também no quadrante da Estrela, uma vez que esses investimentos ganharam crescimento de mercado e market share, ou seja, se ainda não são Vacas Leiteiras, é apenas uma questão de tempo.

E se você entendeu o conceito da matriz BCG para inovação, já deve ter percebido que as Vacas Leiteiras representam as inovações de sustentação, ou seja, o que pode incrementar a minha estratégia atual e melhorar o que eu já faço muito bem: o meu Core Business.

1 Estrela em 250 Apostas

Existe uma estatística do mercado de Venture Capital, de uma pesquisa realizada Correlation Ventures, que a cada 250 Apostas, somente 1 produto se tornará uma Estrela com o potencial de ser um produto realmente milionário. Agora, na média, apenas 87 projetos se tornarão produtos que realmente vão incrementar a receita da organização.

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Fonte: Correlation Ventures

Essa informação é relevante porque mostra a importância de ter muitas Apostas, com divisões de orçamento muito estratégicas, para que ao longo do processo as alternativas que não vingaram possam ser retiradas do portfólio e os recursos que alimentam as mesmas, possam dar forças para o desenvolvimento daquelas com maior potencial.

Isso tudo é relevante para que não tiremos o foco do nosso maior objetivo: criar novas Estrelas.

Como equilibrar o portfólio de inovações com a ambidestria organizacional?

Até aqui já deve ter aprendido que o equilíbrio entre as iniciativas de inovação que garantem a melhoria do meu produto hoje e o investimento de novas possibilidades amanhã, é chamado de ambidestria organizacional, mas como equilibrar esse portfólio de inovações?

Quando nos referimos a Apostas, estamos falando de inovações de crescimento, ou seja, eu preciso pensar no futuro, apostar agora e colher os frutos “lá na frente”. E se o meu produto está posicionado em Estrelas ou Vaca Leiteira, eu estou falando inovações de sustentação, ou seja, eu estou incrementando o meu negócio atual.

Agora, para equilibrar o nosso portfólio de inovações, vamos utilizar o Business Model Portfólio, que foi criado por Alex Osterwalder, que é o mesmo criador do Business Model CANVAS.

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Complementando bem o conceito de ambidestria organizacional, a representação gráfica do nosso portfólio está divida entre inovações de crescimento ( exploration ), das inovações de sustentação ( exploitation ).

O começo da estratégia está nas inovações de sustentação e isso é óbvio porque muito provavelmente é o que a sua empresa já faz agora.

Vamos imaginar o quadrante de exploration como um “Plano B” – esses projetos existem com a finalidade de que, no futuro, independente do desempenho do seu Core Business (ou seja, seu Plano A), “lá na frente”, essas inovações terão o potencial de se tornar o carro chefe da sua organização. É importante reforçar esse ponto porque se você não estiver trabalhando agora para disruptar o seu mercado no futuro, alguém fará e isso pode representar a morte do seu negócio.

Perceba que a movimentação desses projetos precisa estar na diagonal, rumo ao quadrante de inovações de sustentação, ou seja, a direção continua sendo a mesma: Apostas com o potencial de se tornarem nossas Vacas Leiteiras do futuro.

Um outro insight é que toda inovação possui um risco, então quando alocamos poucos recursos em muitas possibilidades, reduzimos o risco e avançamos projetos perdendo a incerteza dessas apostas.

É claro, estamos falando de testar 250 inovações, para ter um grande campeão (e bilionário) lá na frente.

Considerações finais

Se você gostou desse conteúdo, mas ainda tem dúvidas de como realizar a ambidestria organizacional equilibrando o seu portfólio de inovações, na prática, assista o vídeo abaixo, onde explicamos tudo o que foi apresentado acima, utilizando o módulo de Central de Iniciativas do AEVO, que foi construído com base no conteúdo apresentado acima.

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Luís Felipe Carvalho

Luís Felipe Carvalho é um dos fundadores e, atualmente, CEO da AEVO; está há mais de 16 anos à frente de iniciativas para alavancar a inovação de empresas do Brasil e do mundo. Ao longo de sua trajetória, acumula experiências em gestão e implantação de projetos de inovação, buscando formas de gerar resultados para corporações também por meio do incentivo ao intraempreendedorismo. Graduado em Ciência da Computação pela Universidade Federal do Espírito Santo, cursou MBA em Gestão Empresarial e possui certificação PMP (Project Management Professional) concedida pelo Project Management Institute. Foi analista de projetos e liderou programas inovadores em grandes companhias de segmentos como engenharia e siderurgia. Integrou ainda o corpo docente da FUCAPE Business School, ministrando disciplinas de Project Management Office (PMO), Portfólio e Maturidade em Projetos e Gerenciamento de Riscos.

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Luís Felipe Carvalho

Luís Felipe Carvalho é um dos fundadores e, atualmente, CEO da AEVO; está há mais de 16 anos à frente de iniciativas para alavancar a inovação de empresas do Brasil e do mundo. Ao longo de sua trajetória, acumula experiências em gestão e implantação de projetos de inovação, buscando formas de gerar resultados para corporações também por meio do incentivo ao intraempreendedorismo. Graduado em Ciência da Computação pela Universidade Federal do Espírito Santo, cursou MBA em Gestão Empresarial e possui certificação PMP (Project Management Professional) concedida pelo Project Management Institute. Foi analista de projetos e liderou programas inovadores em grandes companhias de segmentos como engenharia e siderurgia. Integrou ainda o corpo docente da FUCAPE Business School, ministrando disciplinas de Project Management Office (PMO), Portfólio e Maturidade em Projetos e Gerenciamento de Riscos.

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