Abordado com bastante ênfase no Disruptive Innovation Festival (DIF) , em novembro de 2017, pela Ellen MacArthur Foundation, o conceito Economia Circular (Circular Economy) vem ganhando cada vez mais espaço, principalmente pela sequência de crises sistêmicas que o planeta tem enfrentado.
Dados de um conjunto de publicações, desenvolvido pela própria Ellen MacArthur Foundation, em parceria com a consultoria americana McKinsey & Company e também com o Fórum Econômico Mundial, argumentaram que o setor industrial da Europa, com adoção do modelo circular, pode obter redução de custos materiais substanciais de aproximadamente US$ 1 trilhão/ano até 2025, mediante investimento em inovações de processos, produtos, serviços ou modelos de negócio.
Oposto ao modelo linear de extração, transformação, consumo e descarte, que gera desequilíbrios ambientais, sociais e econômicos, o circular se apresenta como um modelo regenerativo e restaurativo, que tem como objetivo manter produtos, componentes e materiais em seu mais alto nível de utilidade e valor.
O modelo circular consiste em um ciclo de desenvolvimento positivo contínuo, que preserva e aperfeiçoa o capital natural, otimiza a produção de recursos e minimiza riscos sistêmicos, administrando estoques finitos e fluxos renováveis.
Independente da escala, o modelo é comprovadamente eficaz.
Teorias à parte, é preciso começar a visualizar na prática essa transição, do linear para o circular. Dentro dessa perspectiva, iremos falar abaixo sobre os três princípios do modelo, que possibilitará um melhor entendimento e até potenciais aplicações.
1. Preservar e aperfeiçoar o capital natural
O ponto chave deste princípio é a desmaterialização ou minimização do uso de materiais na concepção de produtos e serviços.
Diante da necessidade de recursos, o sistema circular seleciona-os com sensatez e, sempre que possível, opta por tecnologias e processos que utilizam recursos renováveis ou apresentam melhor desempenho.
Além de potencializar os resultados da organização, colabora diretamente para o aumento do capital natural, estimulando fluxos de nutrientes no sistema e criando as condições necessárias para a regeneração.
Entende-se neste princípio que o uso consciente para gerar efetividade é um fator imprescindível, principalmente na ideação do produto ou serviço.
2. Otimizar a produção de recursos
Em suma, projetar para a remanufatura, a reforma e a reciclagem, de modo que componentes e materiais continuem circulando e contribuindo para a economia.
Modelos circulares usam circuitos internos mais estreitos, preservando mais energia e outros recursos, como mão de obra envolvida na produção.
Esses modelos também mantêm a velocidade dos circuitos dos produtos, prolongando sua vida útil e intensificando sua reutilização. Por seu lado, o compartilhamento vem para ampliar a utilização dos produtos.
Também maximiza o uso de materiais biológicos já utilizados, obtendo valiosas matérias-primas bioquímicas, destinando-as à aplicações de graus cada vez mais baixos.
A Caterpillar, fabricante estadunidense de máquinas, motores e veículos pesados voltados para a construção civil e mineração, conta com programas de remanufatura para recuperar materiais por meio de tecnologia, restaurando os de forma a deixá-los em estado semelhante ao de produtos novos.
A multinacional estima que 65% do seu faturamento corresponde a custos com materiais, e portanto, a remanufatura é uma grande oportunidade de obter vantagem competitiva, com margens de lucro maiores e qualidade na produção.
Por mais que toda atenção esteja na minimização do uso de materiais, há também um grande esforço em desenhar produtos que possibilitem a remanufatura.
Vale ressaltar que, em média, na realidade das plantas industriais de remanufatura da Caterpillar, há uma redução de 90% no consumo de água, 80% no de energia e 50% nas emissões de gases na comparação com o processo produtivo de um componente novo, contribuindo positivamente para o meio ambiente.
Um exemplo brasileiro é o da petroquímica Braskem, que criou em 2017 uma área chamada Wecycle e tem como objetivo avançar em soluções sustentáveis relacionadas à economia circular na cadeia do plástico.
Desde 2010, a empresa produz o polietileno verde I’m green™, a partir do etanol de cana-de-açúcar.
Elaborado por meio de fonte 100% renovável, o “plástico verde” colabora para a captura de CO2 da atmosfera e pode ser reciclado na mesma cadeia de reciclagem do plástico tradicional, produzido a partir de fonte fóssil, contribuindo para o fechamento do ciclo de um dos produtos mais importantes para quase todos os setores da economia.
Outras empresas como Google, Philips, Unilever, Cisco, Renault, entre outros também adotaram o modelo circular para evoluírem em produtos e processos. Além de apoiarem e participarem de estudos sobre o tema, por consequência acabam estimulando a transição do linear para o circular em outras organizações.
3. Fomentar a eficácia do sistema
Identificar externalidades negativas e retira-las dos projetos desde o princípio. Isso é composto por redução de danos a produtos e serviços de que as pessoas necessitam, como alimentos, mobilidade, habitação, educação, saúde e entretenimento, e a gestão das externalidades, que vai do uso dos recursos naturais até os impactos ambientais.
Economia Circular: um modelo econômico inovador para substituir um modelo estressado
Economia Circular não é sobre sustentabilidade, mas sim sobre a reconstrução de um sistema de produção e consumo.
Diante de um modelo esgotado, o linear, a alternativa está justamente em um modelo que se propõem à ir além do usual (simples consumo), da redução do uso de materiais, através do aproveitamento do que já circula no mercado, na concepção e produção até o descarte consciente para a devida destinação.
A realidade de quem já tem o modelo de negócio circular na sua estrutura, como a Braskem (citada acima), por exemplo, só reforça o quanto é viável e rentável.
A petroquímica vem inovando no seu modelo de negócio, visando novos produtos para obter posicionamento competitivo em um mercado que requer constante movimentação. Entretanto, ainda há dúvidas de como aplicar o modelo em alguns mercados, muito pela ausência de direcionadores que possam minimizar o risco na transição.
Cabe aos interessados (mercado e governo) um movimento sincronizado, enérgico e colaborativo.
Podemos concluir então que as oportunidades de negócios estão para àqueles que estão dispostos a evoluir, e que para isso vão envolver as pessoas a fim de obter os melhores insights nesse processo de transformação.
E você, já parou para pensar o quanto a sua organização pode alavancar com um modelo circular? Inovar no modelo de negócio baseado no sistema circular será engrandecedor sob todos os aspectos. Deixe seu comentário abaixo e vamos aprofundar esse tema.
Crédito da Imagem: Igor Kisselev
Um comentário
Preservar o capital natural é fundamental para garantir a sobrevivência da espécie humana na terra.