São as pessoas (e não a tecnologia) que inovam os negócios!

Quando se trata de inovação, pessoas e tecnologia são uma conexão primordial, já que só tecnologia deixou de ser o diferencial das empresas.

Quando falamos sobre pessoas e tecnologia, temos uma relação intrínseca. São as pessoas que inovam e possibilitam que as empresas desenvolvam novas tecnologias.

Vivemos hoje em um mundo em que a tecnologia está cada vez mais disponível e acessível para todos. Plataformas na nuvem – como Microsoft Azure, Amazon AWS e Google Cloud – permitem a qualquer empresa produzir aplicações complexas de maneira rápida e barata. Por isso a conexão entre pessoas e tecnologia é cada vez mais natural.

De fato, a distância entre uma startup e uma empresa Fortune 500 nunca foi tão pequena quando consideramos o acesso à tecnologia.

Nesse contexto, cada vez mais as empresas dependem das pessoas para se diferenciar dos seus concorrentes, já que as mesmas tecnologias estão disponíveis para todos.

1 – Por que a tecnologia deixou de ser o diferencial?

Na década de 80, para se desenvolver um novo produto, era necessário um grande investimento em profissionais altamente qualificados e uma relevante estrutura de ativos, pessoas e tecnologia conectadas.

As grandes empresas com alto volume de investimento e equipes robustas de pesquisa detinham uma larga vantagem competitiva sobre as demais e, por isso, mantinham-se líderes em seus segmentos por décadas.

Atualmente, de um dia para o outro, é possível disponibilizar uma nova aplicação na nuvem para todo o mercado mundial e potencialmente gerar uma grande disrupção nos modelos vigentes.

Esse cenário equipara empresas de pequeno com as de grande porte, democratizando as possibilidades de aplicação das tecnologias e ganho de mercado. Por isso, tem sido cada vez mais comum vermos empresas enormes serem desbancadas por startups criadas há poucos anos.

Quanto mais a tecnologia está disponível e acessível para todos, menos ela se torna, por si só, um diferencial competitivo para as empresas.

Diferentemente do passado, hoje uma empresa não tem diferencial algum por simplesmente deter uma tecnologia, como, por exemplo, a inteligência artificial. A vantagem efetiva está em como cada empresa aplica essa tecnologia ao seu modelo de negócio, criando mais valor para os seus clientes e aumentando a produtividade dos seus processos.

Então, onde está o diferencial? Paradoxalmente, a evolução da tecnologia coloca as pessoas como centro das inovações necessárias para as empresas se destacarem.

São elas que, com o conhecimento das possibilidades tecnológicas, podem criar novos modelos e processos que irão de fato revolucionar os negócios.

2- Quais funcionários devem ser envolvidos nas iniciativas de inovação?

Se a tecnologia por si só não resolve a necessidade de inovar é porque precisamos que as ideias inovadoras nasçam das pessoas, ou seja, mais uma vez a conexão entre pessoas e tecnologia é primordial.

Mas quais colaboradores da empresa devem ter papel central nas inovações? De onde devem vir as ideias que a empresa implantará?

A gestão tradicional sempre destacou a alta liderança como fonte primordial das inovações a serem aplicadas nas empresas. Em geral, os líderes se reúnem em um processo de planejamento estratégico, analisam os cenários interno e externo, definem objetivos e criam um plano com iniciativas estruturadas que devem ser realizadas pela organização.

Aos demais colaboradores, resta a função de executar o que foi definido pela liderança. Menos pensamento e mais execução. Mas será que esse é o melhor caminho?

Para uma melhor avaliação, vamos analisar a estrutura de conhecimento das empresas. Em geral, para empresas com mais de 100 funcionários, quanto mais alto o cargo, menos específico é o conhecimento do colaborador, como pode ser visto na figura a seguir.

tecnologia e pessoas

Um diretor, no alto da pirâmide, trabalha basicamente com grandes números do negócio. Para citar alguns exemplos: receita/margem dos produtos, produtividade dos departamentos e clima organizacional das equipes.

Já um vendedor, na linha de frente do negócio e base da pirâmide, tem conhecimentos específicos sobre sua área. Conversando diariamente com clientes diversos, ele recebe rotineiramente elogios/reclamações sobre os produtos/serviços, além de sugestões sobre como a empresa pode atendê-los melhor.

Da mesma forma que um vendedor, outros funcionários da base da pirâmide tem conhecimentos bem particulares: os operadores, o time da produção e os especialistas administrativos, para citar alguns, conhecem os seus processos em grande nível de detalhe.

Em resumo, a alta liderança tem um conhecimento geral/agregado sobre a organização enquanto que a linha de frente tem um conhecimento específico da sua área de atuação, como ilustrado na figura a seguir.

tecnologia e pessoas

Repare que o conhecimento agregado permite aos líderes entender onde estão os desafios e gargalos da organização. Por exemplo: a empresa precisa melhorar as vendas de um produto X ou aumentar a produtividade de uma área Y.

Por outro lado, o conhecimento específico dos funcionários da linha de frente os habilita a ter as melhores e mais viáveis ideias para resolver os desafios. Por exemplo: um vendedor, conhecendo o desafio de melhorar vendas de um produto X, pode analisar os feedbacks das conversas com clientes e propor uma ideia inovadora que ajuda a empresa nesse gargalo.

Em suma, como ilustrado na figura a seguir, a liderança conhece os desafios e a linha de frente sabe como resolvê-los. Faz sentido, não é mesmo?

tecnologia e pessoas

Essa constatação nos faz concluir que a inovação deve incluir todos os colaboradores da empresa , cada um com o seu papel:

  1. A liderança deve identificar os desafios da empresa e comunicá-los à organização;
  2. A linha de frente, conhecendo os desafios, deve propor e implementar ideias/inovações para resolvê-los.
Organizações Guiadas por Ideias
Organizações Guiadas por Ideias

Essa forma de gestão, em que a empresa é direcionada pela liderança, mas conduzida pela base, forma o conceito de uma Organização Guiada por Ideias , termo cunhado pelos autores Alan Robinson e Dean Schroder no livro de mesmo nome.

Após avaliar dezenas de empresas, os autores perceberam que 80% do potencial de valor das empresas está nas ideias propostas pela linha de frente e não pela alta liderança.

80% do potencial de valor das empresas está nas ideias propostas pela linha de frente.

Alan Robinson e Dean Schroder

3- Como organizar a empresa para a cultura de inovação?

Já sabemos que são as pessoas os grandes responsáveis por inovar e que todos os colaboradores precisam ser envolvidos na inovação. Mas como fazer isso?

Na verdade, não há uma fórmula mágica para qualquer negócio, mas alguns passos podem ser seguidos para começar a formar a cultura de inovação na empresa. São eles:

  1. Lance desafios para a organização;
  2. Engaje as pessoas para a inovação;
  3. Priorize as melhores ideias;
  4. Controle a implantação das inovações.

O primeiro passo já foi bem explorado na seção anterior.

Basicamente, a liderança precisa analisar os desafios do negócio e compartilhar com a equipe, lançando campanhas que envolvam o máximo de pessoas. O segredo é deixar claro o que se espera resolver e criar meios para que as pessoas possam contribuir. Um bom caminho para isso é estruturar um programa de ideias de inovação.

O segundo passo envolve engajar as pessoas no processo de inovação. Muitos colaboradores já contribuirão simplesmente pelo fato de o desafio ter sido lançado, mas é preciso ir além.

Criar estímulos para participação, como o reconhecimento dos mais inovadores, o uso de Gamificação e até a utilização de recompensas pode ser uma ótima estratégia para que muitas pessoas participem com ideias.

Conforme a colaboração de pessoas e tecnologia aumenta, cria-se um “problema bom”: muitas ideias e, em geral, recursos limitados.

Nessa hora, é necessário haver um processo claro para classificar e priorizar as ideias que devem ser implantadas.

Quanto mais objetivos forem os critérios de classificação, melhor para a transparência do processo e para não desestimular a participação da equipe. Se você quiser conhecer mais sobre o assunto, leia o artigo que escrevi sobre como priorizar o portfólio de inovações da sua empresa.

Por fim, a última etapa contempla a gestão das implantações das inovações. Não é raro ver empresas que recebem muitas ideias, liberam recursos para implementar as prioritárias, mas que “morrem na praia” ao não controlar bem a implantação.

Para não correr esse risco, é imprescindível a utilização de práticas de gestão de portfólio de projetos para garantir que as inovações sejam de fato aplicadas ao negócio.

Conclusão

Para inovar, precisamos das pessoas. Na maioria das vezes, elas já estão na nossa empresa, mas nós subestimamos os talentos que temos internamente e não incluímos o nosso time como um todo nas iniciativas de inovação.

Neste artigo, expus um meio simples de mudar esse quadro. Espero que inspire as lideranças a mudar a sua percepção e ação a fim de que inovem melhor com as suas equipes.

Luís Felipe Carvalho

Luís Felipe Carvalho é um dos fundadores e, atualmente, CEO da AEVO; está há mais de 16 anos à frente de iniciativas para alavancar a inovação de empresas do Brasil e do mundo. Ao longo de sua trajetória, acumula experiências em gestão e implantação de projetos de inovação, buscando formas de gerar resultados para corporações também por meio do incentivo ao intraempreendedorismo. Graduado em Ciência da Computação pela Universidade Federal do Espírito Santo, cursou MBA em Gestão Empresarial e possui certificação PMP (Project Management Professional) concedida pelo Project Management Institute. Foi analista de projetos e liderou programas inovadores em grandes companhias de segmentos como engenharia e siderurgia. Integrou ainda o corpo docente da FUCAPE Business School, ministrando disciplinas de Project Management Office (PMO), Portfólio e Maturidade em Projetos e Gerenciamento de Riscos.

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Luís Felipe Carvalho

Luís Felipe Carvalho é um dos fundadores e, atualmente, CEO da AEVO; está há mais de 16 anos à frente de iniciativas para alavancar a inovação de empresas do Brasil e do mundo. Ao longo de sua trajetória, acumula experiências em gestão e implantação de projetos de inovação, buscando formas de gerar resultados para corporações também por meio do incentivo ao intraempreendedorismo. Graduado em Ciência da Computação pela Universidade Federal do Espírito Santo, cursou MBA em Gestão Empresarial e possui certificação PMP (Project Management Professional) concedida pelo Project Management Institute. Foi analista de projetos e liderou programas inovadores em grandes companhias de segmentos como engenharia e siderurgia. Integrou ainda o corpo docente da FUCAPE Business School, ministrando disciplinas de Project Management Office (PMO), Portfólio e Maturidade em Projetos e Gerenciamento de Riscos.

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Um comentário

  1. As pessoas estão cada vez mais inovando, e os colaboradores estão incluídos na inovação da empresa sempre.

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