A transição energética é uma ação necessária para responder ao desafio global imposto pelas mudanças climáticas, visando reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
No Brasil, cinco áreas são pensadas para atender o panorama nacional de maneira ampla. Descarbonização, Descentralização, Digitalização, Democratização e Decréscimo são os 5 Ds que visam uma transição justa e inclusiva para uma economia de baixo carbono.
Confira as possibilidades que cada área oferece para a transição energética, sua importância no contexto geral, e o cenário em que elas se encontram no país. Siga a leitura.
Cenário global
Ainda em 2023, a temperatura média global já se aproximou perigosamente de 1,5 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais.
A meta estabelecida por 195 países no Acordo de Paris, em 2015, foi de manter esse limite até 2030. Atingir o valor com sete anos de antecedência reacendeu a urgência de que as nações adotem medidas concretas para limitar o aquecimento.
A mais recente Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP28) estabeleceu metas ambiciosas para enfrentar essa crise.
Os países concordaram com a necessidade de triplicar a capacidade renovável global e dobrar o progresso na eficiência energética até 2030, reconhecendo a transição energética como o principal instrumento para alcançar tais objetivos.
Entre 2010 e 2022, os custos das tecnologias renováveis experimentaram uma redução considerável. A queda foi de 83% para a energia solar fotovoltaica e 42% para a eólica em terra, segundo a Agência Internacional para as Energias Renováveis (Irena).
A diminuição nos custos tem impulsionado a adoção de energia limpa em todo o mundo, tornando-a mais acessível e competitiva em relação às fontes tradicionais.
Apesar do avanço, a transição energética ainda enfrenta desafios importantes. Superá-los exige soluções que vão além da geração, e requer transformações profundas no planejamento, distribuição e consumo de eletricidade e combustíveis.
O que é a transição energética?
A transição energética é uma mudança fundamental no sistema de produção e consumo de energia, visando a substituição das fontes tradicionais por opções mais eficientes, escaláveis ou sustentáveis.
No contexto atual, ela é uma ferramenta contra a crise climática, deixando para trás as fontes de energia fósseis em favor de fontes limpas e renováveis.
O processo de transição energética não é uma novidade na história. O uso de animais para tracionar ferramentas e transportes é um exemplo, assim como a adoção do fogo para diversas funções.
Em maior escala, o mundo já viu duas grandes transições – da madeira para o carvão no século 19, e deste para o petróleo no século 20.
A transição energética em curso no século XXI representa uma continuidade desses processos, mas com uma amplitude sem precedentes.
Enquanto as mudanças do passado tiveram a eficiência como o motor de um avanço gradual, hoje a sustentabilidade pressiona uma adoção rápida e abrangente para reduzir as emissões de carbono e outros poluentes.
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Importância da transição energética
A transição energética é um elemento central para o desenvolvimento sustentável e na agenda ESG (ambiental, social e de governança).
Seu benefício mais evidente, nesse sentido, é contribuir amplamente para a redução das emissões de carbono e o combate às mudanças climáticas.
As emissões globais já ultrapassam os 37.5 bilhões de toneladas por ano, e o setor energético é responsável por mais de um terço desses números.
A descarbonização dessa área é considerada uma “fruta baixa” pela comunidade internacional, por causar um impacto massivo e ser possível com tecnologias já existentes.
Além de mitigar os impactos ambientais, a transição energética também oferece oportunidades valiosas de emprego e desenvolvimento econômico.
A energia renovável já é o principal empregador no setor, e deve concentrar até 60% dos cargos relacionados à energia até 2030. Políticas voltadas à promoção de energias limpas podem gerar quase 30 milhões de empregos até lá.
A transição energética ainda favorece o desenvolvimento regional, promovendo a descentralização da produção e distribuição de energia.
Substituir o modelo de grandes usinas por sistemas distribuídos cria oportunidades para comunidades locais se tornarem autossuficientes em energia, promovendo o desenvolvimento sustentável em áreas mais isoladas.
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Os 5 Ds da transição energética
Uma transição energética bem-sucedida exige mais do que o fechamento gradual das instalações baseadas em combustíveis fósseis e a adoção de energias limpas.
Ela pede por uma mudança que pode ser complexa, envolvendo uma série de transformações em diferentes áreas e aspectos da sociedade e da economia.
Os 5 Ds da transição energética – representam os pilares dessa mudança, são eles:
- Descarbonização;
- Descentralização;
- Digitalização;
- Democratização;
- Decréscimo.
Eles não são pensados em uma hierarquia de prioridades ou relevância; pelo contrário, ocorrem de forma simultânea e interconectada.
1 – Descarbonização
A descarbonização é um objetivo essencial da transição energética, referindo-se à redução das emissões de carbono na produção e no consumo de energia.
Sua visão é diminuir a dependência de combustíveis fósseis, responsáveis pela maioria das emissões de gases de efeito estufa, e promover a adoção de fontes de energia mais limpas e sustentáveis.
Os benefícios da descarbonização incluem a redução da poluição do ar, a mitigação das mudanças climáticas, a promoção da saúde pública, a criação de empregos verdes e a melhoria da segurança energética.
Além disso, ao impulsionar o desenvolvimento de tecnologias renováveis e eficiência energética, a descarbonização estimula a inovação e o crescimento econômico sustentável.
Diversas ações podem contribuir para a descarbonização. A expansão das energias renováveis, a melhoria da eficiência energética, a eletrificação dos transportes e a implementação de políticas e regulamentações ambientais mais rígidas são alguns exemplos.
Descarbonizar requer investimentos em infraestrutura verde, incentivos fiscais para tecnologias limpas e a colaboração entre governos, empresas e sociedade civil.
Atualmente, o mundo enfrenta desafios significativos na descarbonização, com muitos países dependentes de combustíveis fósseis enfrentando resistência política e econômica à transição energética.
No entanto, há um crescimento notável das ações, impulsionado pelos efeitos já visíveis das mudanças climáticas e pelas oportunidades econômicas associadas à descarbonização.
2 – Descentralização
A descentralização diz respeito à mudança do modelo tradicional de produção e distribuição de energia em grandes centrais para um sistema mais bem distribuído.
Ela envolve o aumento da geração de energia em pequena escala, a partir de fontes renováveis e distribuídas, como painéis solares, turbinas eólicas locais e sistemas de armazenamento de energia.
A Descentralização promove a resiliência e a segurança energética, reduzindo a dependência de grandes usinas e redes centralizadas, que estão sujeitas a interrupções e falhas.
Além disso, ao permitir que os consumidores gerem sua própria energia, a Descentralização contribui para a criação de empregos locais e promove a participação cidadã na transição energética.
Fomentar a Descentralização passa por incentivar a instalação de sistemas de geração distribuída, implementar políticas de acesso à rede para produtores de energia renovável e desenvolver tecnologias mais eficientes de armazenamento.
Existem diversos projetos que favorecem a Descentralização em nível global.
No Brasil, o Marco Legal da Micro e Minigeração de Energia é o instrumento mais relevante para esse objetivo. Ele assenta as bases de um ambiente regulatório positivo para que pequenas empresas e até mesmo consumidores individuais contribuam para a geração de energia.
3 – Digitalização
A digitalização do sistema energético refere-se à integração de tecnologias avançadas nos sistemas de energia para melhorar a eficiência, a gestão e a resiliência.
Alguns exemplos são a Internet das Coisas (IoT), a inteligência artificial (IA), a análise de dados e a automação para otimizar a produção, distribuição e consumo de energia.
Digitalizar o setor permite uma gestão mais eficiente e inteligente dos recursos energéticos, permitindo que os operadores de rede monitorem e controlem as operações em tempo real. Isso ajuda a reduzir perdas, melhorar a confiabilidade e a segurança do sistema, e facilitar a integração de fontes de energia renovável.
Para impulsionar a digitalização é preciso investir no desenvolvimento de uma infraestrutura digital, como redes e medidores inteligentes.
O gerenciamento de energia baseado em IA para otimizar a operação de sistemas de energia complexos e o uso de blockchain para transações de energia descentralizadas e transparentes também são passos valiosos nessa direção.
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4 – Democratização
A democratização energética busca tornar a energia acessível e participativa para todos os segmentos da sociedade. Ela promove a equidade e a inclusão no acesso, na tomada de decisões e nos benefícios relacionados à energia.
Democratizar o sistema energético traz diversos benefícios. Em primeiro lugar, promove a equidade no acesso, garantindo que todos tenham serviços energéticos seguros, confiáveis e acessíveis.
Além disso, a democratização fortalece a resiliência do sistema energético, ao diversificar as fontes de energia e reduzir a dependência de grandes infraestruturas centralizadas.
Ela também promove a inovação e a criatividade, ao incentivar a participação de uma ampla gama de atores no mercado de energia.
Democratizar requer um esforço conjunto.
É preciso definir políticas e regulamentações que incentivem a participação dos cidadãos e comunidades na produção de energia renovável.
Novos modelos de negócios também facilitam o investimento em projetos comunitários, bem como o fornecimento de acesso a tecnologias e informações sobre energia para grupos menos favorecidos.
5 – Decréscimo de consumo
O decréscimo visa um nível superior de eficiência energética e a mudança nos comportamentos de consumo para reduzir a utilização de energia.
Cortar a demanda total caminha lado a lado com os outros itens, especialmente em áreas difíceis de descarbonizar.
Além de favorecer o ambiente, o Decréscimo de consumo pode resultar em economias significativas de energia e redução nos custos de energia para os consumidores.
Um passo importante para atingir esse objetivo é estimular a eficiência e a conservação energética em construções, meios de transporte e indústrias.
Um Decréscimo de 7% até 2030 é considerado possível, sem impactos negativos ao crescimento econômico global – que deve ser de 40% nesse período.
No entanto, esse resultado enfrenta obstáculos, como a resistência à mudança de comportamento, a falta de investimento em tecnologias sustentáveis e de políticas públicas eficazes para promover o consumo consciente.
Quais os desafios da transição energética?
A transição energética é um processo complexo que pede por mudanças rápidas em diversas áreas, mas enfrenta desafios como:
Infraestrutura obsoleta
A atualização e modernização da infraestrutura existente é necessária para acomodar fontes de energia renovável.
Redes de transmissão e distribuição mais inteligentes e flexíveis, capazes de lidar com a geração descentralizada e variável, são indispensáveis.
Custos iniciais
As tecnologias de energia renovável envolvem custos de entrada com equipamentos, instalações e infraestrutura. Os valores caíram nos últimos anos, mais ainda podem ser um desafio financeiro para muitos consumidores.
Resistência da indústria energética e dos consumidores
A transição energética enfrenta resistência de partes da indústria de combustíveis fósseis, devido a perda de lucratividade e empregos.
Além disso, alguns consumidores podem ser hesitantes em adotar tecnologias de energia renovável, considerando questões de confiabilidade, custo e conveniência.
Geração consistente
Fontes de energia renovável, como solar e eólica, são intermitentes por natureza, e a geração pode variar muito dependendo das condições climáticas.
Garantir uma oferta consistente é essencial para manter a estabilidade e confiabilidade das redes, exigindo o desenvolvimento de soluções para o armazenamento e a resposta rápida à demanda variável.
Como ocorre a transição energética no Brasil?
O Brasil é um protagonista global no assunto, graças à ampla utilização das hidrelétricas, aos avanços em biocombustíveis e ao potencial solar e eólico.
O país já tem 48% de sua energia – incluindo eletricidade e combustíveis – baseada em fontes renováveis, e a Política Nacional de Transição Energética busca elevar esse número.
Apesar do destaque, é preciso acelerar os esforços para aproveitar os recursos renováveis à disposição no país.
Além disso, os ótimos resultados no setor elétrico precisam ser acompanhados por outras áreas, especialmente no transporte, uso do solo e gestão de resíduos.
O país gera quase 80 milhões de toneladas de lixo sólido urbano a cada ano, por exemplo. Além de contaminar o meio ambiente, esses resíduos guardam um potencial energético valioso.
Eles são capazes de abastecer até 3% do consumo nacional, ou todo o estado de Pernambuco. A gestão adequada pode contribuir para a descarbonização, descentralização e democratização.
Caso avance na implementação de políticas públicas eficazes, investimentos em infraestrutura e tecnologias inovadoras, o Brasil estará posicionado para ser um líder global em transição energética, impulsionando o desenvolvimento econômico sustentável e contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas.
Conclusão
A transição energética é fundamental para combater as mudanças climáticas e promover o desenvolvimento sustentável.
Ela envolve diversas ações para promover uma mudança significativa, com a adoção de fontes limpas e renováveis, descentralização da geração, digitalização das redes, democratização do acesso e redução do consumo.
Empresas de todos os setores podem contribuir adotando práticas sustentáveis em suas operações, investindo em tecnologias limpas e participando ativamente de iniciativas de descarbonização.
Além de favorecer a transição energética, as organizações também podem se beneficiar dela. Existem oportunidades para o crescimento em mercados conscientes, bem como para a criação de produtos e serviços inovadores que atendam às novas demandas de consumo.
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